quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Memórias de África

Partimos há procura de uma vida melhor no paquete Moçambique rumo a Luanda com escalas no Funchal e em S. Tomé! Mas o destino final seria Benguela a cidade das acácias, uma vez que a oportunidade de trabalho do meu pai seria no tribunal da capital dessa província. Recordo com saudade a magnífica praia ao fundo da avenida onde morávamos, abundantemente arborizada com palmeiras e acácias, um verde contrastante com a cor da terra castanho amarelada. Lembro-me das deslocações em família efectuadas numa bicicleta (onde o meu pai nos levava há vez até há praia), depois numa mota Yamaha preta e alguns anos depois num Austin mini já na cidade do Lobito. Lembro-me de um picnic no Cavaco feito nuns terrenos abundantemente fornecidos de bananas e mangas, cujo proprietário alcoolizado chamou a polícia, finalizando abruptamente o passeio numa esquadra com a respectiva apreensão dos frutos. Uns dias depois o proprietário apresentou-se na repartição onde trabalhava o meu pai, com um carregamento de mangas, dizendo-se arrependido, retirando a queixa. Depois da mudança para o Lobito continuamos ao fim de semana a invadir Benguela passando a tarde de domingo na casa da família de um chefe e amigo do meu pai (família Matos), que abria as portas de par em par a todos aqueles que amavam aquela terra. Certa vez deslocamo-nos num jeep de um vizinho polícia para um passeio em pleno mato, parando para descansar junto a um rio, cujo barulho ensurdecedor de insectos, aves e macacos, sugeriu ao mergulhar nas águas frescas, na hipótese da eventual presença do jacaré, acabando toda a gente por sair precipitadamente do rio! De regresso a casa contemplamos um céu espectacularmente estrelado, iluminado por relâmpagos, depois da violenta tempestade da véspera que nos tinha deitado por terra a nossa árvore do jardim, uma mandioqueira. Não me esqueço das viagens nocturnas e dos incêndios intermináveis provocados pelos pastores ou pelas trovoadas, que visualizávamos a muitos quilómetros de distância e que chegavam a durar semanas, só terminando com as primeiras chuvas. Noutra ocasião, estando a família a festejar ao ar livre os anos do meu irmão, já noite dentro sentimos uma mudança na direcção do vento e abundantes nuvens que traziam chuva do lado do mar, deslizando lentamente, dando-nos tempo de agarrar nas mesas e cadeiras, transportando-as para o abrigo da nossa casa. O pombal que construí com a ajuda da minha avó materna, acabou por dar resultados por um curto espaço de tempo, não fossem os gatos da vizinhança terem feito uma razia às crias! Os dez anos passados (1965-1975) terminaram com o empurrão forçado pelos tempos conturbados pós 25 de Abril e futura independência de Angola. De lá muita coisa havia de ficar, que deixa saudades, de quem viveu naquela terra mágica!

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